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Quando um mosquito pousa nos teus testículos

Prometi brejeirice no Facebook e aqui estou para cumprir. Hoje também vou experimentar uma coisa nova para mim. Mais ainda, apenas a minha incomparável humildade evita que diga publicamente que esta novidade é não só pessoal mas provavelmente mundial, quiçá até da Charneca da Caparica! Vou tentar, sem rede e sem preparação, escrever um texto filosófico que, embora pequeno como sempre tento, tocará temas tão distintos quanto violência, guerra em geral e química em particular, mosquitos, testículos e também atribuição de autoria e os seus direitos. Trago assim a mim o pesado fardo de falar dos grandes temas da actualidade.

O que me levou a considerar estes temas fracturantes foi um post de um amigo meu no Facebook que publico na íntegra abaixo.


Foi só isto... mas "só isto" não é suficiente para as inúmeras questões que levanta, muitas delas centrais à condição humana no século XXI. Aviso desde já, mesmo correndo o perigo de perder leitores, que não vou falar da decisão de usar uma moldura em castanho claro quando tudo o resto é monocromático. Entendo que essa é a grande questão, atrevo-me até a dizer a maior questão mas entendo que não tenho nem conhecimento para a discutir nem argumentos para apresentar.

Assim sendo, fico-me pelas questões menores, prometendo no entanto o meu maior esforço na sua digestão filosófica.

Assume o texto que a percepção de que nem tudo na vida se resolve com violência ocorre APENAS quando um mosquito pousa nos testículos. Esta assunção tem vários problemas. O primeiro é que presume que uma pessoa desprovida de gónadas masculinas é incapaz deste raciocínio. Isto é falso como se comprova facilmente pela percentagem altíssima de acções violentas desencadeadas por detentores das ditas. Por ser falso é também sexista.

Sob o ponto de vista da biologia, a afirmação nem faz sentido, o que é um segundo problema. Implica que um número singular de mosquitos pousa num número múltiplo de testículos. Estive a estudar este problema e concluí que tal só é possível se o detentor dos testículos os alinhar propositadamente e um mosquito distribua as patas de uma forma específica. Salta imediatamente à vista que não existe nenhuma forma de comunicação conhecida entre homem e mosquito. Mais, o acto propositado de alinhamento implica que o sujeito saiba com antecedência que irá ganhar essa percepção não-violenta. Não quererá isso dizer que já a tem? Fica a questão...

Por último um terceiro problema. Dá a entender a afirmação que a resolução violenta se dá apenas e só na forma de uma palmada. Ora existem outras resoluções, nomeadamente as químicas, na forma de insecticida. Implica planeamento e logística da lata de Shelltox, admito, mas permite a vitória sobre o vampiresco insecto sem a desagradável palmada que se supõe seja a única solução. Levantam-se aqui algumas questões de natureza higiénica e até de virilidade social. Homem que é homem não vai querer borrifar os entre-folhos! Existem muitas motivações para isto. Algumas são claramente construções sociais mas existem outras que são raramente discutidas e muito mais preocupantes, nomeadamente o fedor a insecticida e a natureza frágil da virilha masculina.

Noto por fim, não um problema em si mas uma observação. Grande parte da força desta mensagem parte do reconhecimento de Gandhi como um homem que falou contra o uso da violência. Noto no entanto que o autor desta poderosa frase, deste pequeno hino ao século XXI, é um escritor chamado Patrick Laplante. Não sabes quem é? Eu também não sei, mas foi ele... Embrulha, Gandhi!

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